quarta-feira, 20 de junho de 2012

História dos spas: milhares de anos de bem-estar



Há séculos que o Homem tem vindo a associar, muito sabiamente, os benefícios da água ao seu bem-estar físico, mental e espiritual. Desde os Mesopotâmios, Egípcios e Minoanos, aos Gregos, Romanos, Otomanos, Japoneses e Europeus foram várias as civilizações que emprestaram sabedoria e popularidade à prática milenar do spa, que chegou aos nossos dias com saúde para dar e vender.

A própria palavra spa e todo o conceito a ela inerente remete-nos para o antigo Império Romano, onde guerreiros exaustos e lesionados procuravam alívio nos banhos quentes. Depressa começaram a construir banhos públicos onde usufruíam de tratamentos que foram batizados com a expressão latina "salut per aque" que significa “saúde através da água”.

Outros referem que a palavra spa tem a sua origem numa vila belga com o mesmo nome, também conhecida pelos seus banhos públicos relaxantes e renovadores. Existente desde o tempo dos romanos, atingiu o seu auge no século XIV, sendo ainda hoje um destino muito procurado.

No entanto, já na Mesopotâmia, uma região da Ásia Menor de terras férteis e banhada pelos rios Tigre e Eufrates, se praticavam terapêuticas ligadas à água na era de 4.000 a.C. Achados arqueológicos demonstram que na época de 2.000 a.C. também os egípcios se deliciavam com os prazeres de um banho quente e regenerador. Reza a história que o primeiro jacuzzi terá sido moldado em granito para o Rei Phraortes da antiga Pérsia, por volta do ano 600 a.C.

Os Gregos, por sua vez, também perceberam cedo os benefícios da água quente na procura de melhor saúde e no alívio das dores e/ou doenças. Tanto até que exploraram ao máximo as suas potencialidades, ao criarem imponentes infra-estruturas de apoio em torno das nascentes de água quente. Ponto de encontro e de convívio, os banhos públicos eram, não raras vezes, palco da vida social grega e os trabalhos escritos de grandes filósofos como Platão, Homero e Hipócrates registaram para a história estas atividades.

Mas a verdade é que foram os Romanos quem elevou o spa ao seu luxo máximo. Apesar de em 25 a.C. já fazerem spa há mais de dois séculos, foi neste ano que a civilização romana, pelas mãos do Imperador Agrippa, viu construída a sua primeira grande estância termal (ou “thermae” que é a palavra grega para “calor”). Cada vez maiores e mais extravagantes, a partir desta altura, cada imperador tentava exceder os feitos do seu antecessor. As termas do Imperador Diocletian, por exemplo, tinham uma lotação para seis mil banhistas!

A moda das termas romanas pegou, chegando a todo o Império Romano, desde África a Inglaterra, ganhando, pelo caminho, uma importância cada vez maior. Em poucos anos, os simples banhos públicos transformaram-se em gigantescos complexos recreativos e sociais, onde não faltavam espaços desportivos, locais para massagens, salas de convívio e de reuniões, restaurantes e até bordeis!

Para além de todo o aparato e divertimento que rodeava as estâncias termais romanas, estas nunca perderam o seu verdadeiro intuito, antes aperfeiçoaram-no. Os próprios médicos passaram a receitar a prática termal, encorajando a frequência dos banhos públicos a quem procurava melhorar a saúde e viver mais tempo.

A conquista de corpo e mente sã era e sempre foi o grande objetivo do spa, chegando nessa altura, a obedecer a um processo muito próprio, com espaços condizentes bem definidos. Os aquistas entravam para o vestiário (“apodyterium”), seguindo para a “palaestra” onde iniciavam exercícios de aquecimento. Seguiam-se três salas distintas – “tepidarium” (sala de banhos tépidos), “praefurnium” (local das fornalhas que aqueciam a água e o ar) e “caldarium” (espaço dos banhos de água quente) – que, para além dos banhos, incluíam rituais de esfoliação e massagem com óleos apropriados. A experiência termal terminava no “frigidarium” com um mergulho em águas frias e a recuperação efetuava-se no “sudatorium” (um tipo de sauna) ou na biblioteca (tida como local de relaxamento).

A queda do Império Romano e a introdução do Cristianismo – que não tolerava o nudismo, nem a promiscuidade – colocou um ponto final nas práticas termais. No entanto, ainda hoje é possível ver e visitar ruínas de antigos banhos romanos, em países tão diferentes como Algéria, Bulgária, França, Espanha, Portugal, Reino Unido, Alemanha, Hungria, Itália, Roménia, Turquia, Líbia e Holanda, entre outros.

Entretanto, também outros povos haviam descoberto o prazer das águas. A primeira nascente de água quente japonesa (“onsen”) foi descoberta em 737 d.C. e, desde então, a cultura termal tornou-se uma tradição asiática. Com vários séculos de existência, os "ryokens", com excelentes ofertas de alojamento e restauração, jardins zen, banhos interiores e exteriores, conquistaram desde logo muitos adeptos. Igualmente conhecida é a expressão japonesa “Mizu-no-Kokoro” que significa “a mente como a água”, ou seja, em tranquilidade e em harmonia com todo o resto.

Na costa do mar Báltico, nomeadamente na Finlândia, as saunas surgiram no ano 1000 d.C., dando início aos rituais de spa que ainda hoje existem e que contemplam o calor da sauna com os mergulhos em lagos gélidos... tudo acompanhado de uma boa cerveja ou vodka!

Quem não conhece os banhos turcos? Criado pelos Otomanos, os “hammam” eram espaços de encontro social por excelência, oferecendo um ritual de purificação que combinava uma boa sauna com as práticas termais romanas. As próprias infra-estruturas dos “hammam” foram muito aclamadas, devido à sua magnífica arquitetura. Construído em 1556, um dos “hammam” mais famosos é o de Roxelana.

Durante a Idade Média, e quando as ervas e as loções não produziam as curas desejadas, a sociedade voltou-se novamente para as propriedades terapêuticas da água. Alvo de um estudo alargado, depressa se comprovaram, por exemplo, os benefícios das águas sulfúricas no tratamento de doenças de pele ou as vantagens da água rica em sais de bromo e iodo para o tratamento da infertilidade feminina.

Com a descoberta da impressão na época do Renascimento, as práticas do spa foram amplamente divulgadas e o recurso à hidroterapia cresceu exponencialmente. Foi também nesta altura, mais precisamente em 1522, que surge o primeiro livro científico sobre os poderes curativos da água. Os estudos prosseguiram durante o século XVIII, sendo estas terapias alvas de análises científicas e médicas.

Com um conhecimento e difusão cada vez mais alargada, ninguém ficou indiferente aos poderes da água que mereciam e muito bem o antigo e muito proclamado "salut per aque". No entanto, os spas não eram para todos e, durante os séculos XIX e XX, estiveram reservados para as classes altas.

Nos Estados Unidos a moda pegou por volta do ano 1850 com a criação do New York Saratoga Springs, um refúgio para as personalidades da época, caso de Edgar Allan Poe ou Franklin Roosevelt. O primeiro day spa – Red Door Salon – abre as suas portas em Manhattan em 1910, graças a Elizabeth Arden, que disponibiliza serviços de manicure, limpezas de pele e a famosa cera Arden. Sucedem-se a abertura de espaços semelhantes, com destaque para a inauguração, em 1958, do Golden Door Spa na Califórnia, que oferecia programas personalizados de emagrecimento e ginástica. O resto, como se diz, é história!

Em Portugal, os vestígios dos antigos banhos romanos dão conta de uma prática milenar em terras lusas. Aliás, o termalismo é quase tão antigo como a própria nacionalidade, sendo que os nossos reis cedo se renderam aos seus muitos benefícios. Institucionalizada em 1892, hoje a cultura termal virou turismo de saúde e de “wellness” com ofertas que vão desde a tradicional estância termal, passando pelos modernos e luxuosos day spas ou resorts, com tratamentos para todos os gostos e carteiras.

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